23/06/2010

CONTRA O PRECONCEITO

O PREÇO DA LIBERDADE NO OLARIA


Mais uma vez, o Olaria está no debate sobre a questão da homofobia. Em recentes declarações ao jornal Zero Hora, o proprietário da rede de cinemas Guion,Carlos Schmidt afirmou: “o descaso e a negligência do poder público permitiram uma permissiva aglomeração na Rua Lima e Silva, o que impede e oprime quem tentar usar de seu direito de ir e vir”. Se hoje existe esse “descaso e a negligência” do poder público, ele é fruto de uma atitude homofóbica e preconceituosa do próprio empresário e de outros do Centro Comercial Nova Olaria, que em 2005, expulsaram com agressões físicas alguns jovens (em número infinitamente menor do que hoje) que frequentavam o local. O conflito central do Olaria está relacionado, na verdade, a uma questão de classe social e poder aquisitivo, em que o preconceito a LGBTs e negr@s acaba servindo como desculpa para justificar a exclusão destes jovens.

Os jovens que se reúnem na frente do Centro Comercial Nova Olaria o fazem nesse local por falta de oportunidades. É fato que, por uma questão também cultural, em inúmeros espaços públicos e privados de Porto Alegre as pessoas LGBTs são impedidas de freqüentar tais espaços pela sua expressão sexual. O proprietário dos cinemas Guion atribui a queda no público nos seus cinemas à “aglomeração” de jovens aos domingos. Para nós, tal fato se deve, sobretudo, aos altos preços dos ingressos cobrados no cinema e nos demais estabelecimentos, que são muito superiores à renda da maioria da população da cidade, incentivando a exclusão cultural.

O sr. Carlos Schmidt é dono do cinema Guion,mas não da rua Lima e Silva. A rua é um espaço público de livre circulação de pessoas, que devem ter garantido os seu direito de ir e vir, o que dentro do Centro Comercial foram impedidos. O senhor Carlos quer que a rua Lima e Silva sirva apenas aos seus negócios e a seus clientes e não aos centenas de jovens LGBTs que todos os domingos ocupam esse espaço público, com o único intuito de encontrar amigos. A aglomeração existente neste local hoje em dia deve ser trabalhada de forma a ressaltar questões culturais das “tribos” ali presentes, como feiras culturais, shows e atividades que integrem esta juventude e não as excluam da forma mais fácil e agressiva, na evacuação por parte da PM, pois não pode ser tratada como caso de polícia.

Inúmeras vezes procuramos os empresários para um diálogo, seja através do Ministério Público, do Conselho Municipal de Direitos Humanos, das ONGs e tantos outros espaços, mas houve sempre negligência pela administração do estabelecimento. Não entraremos nesta nota pública sobre atitudes isoladas que possam ocorrer no coletivo das pessoas que lá freqüentam, mas ressaltamos que as atividades relatadas acima poderiam minimizar estes fatos, normais quando há muitas pessoas juntas.

Se o princípio do conflito foi ocasionado pelo próprio Olaria, hoje segue com a conivência do poder público e não será com a força policial que acabará o conflito no local, mas com acesso cultural, lembrando neste momento a própria criação do Centro Comercial que foi construído com a lógica de “abraçar todas as tribos”, por isso é um espaço a céu aberto, com roupas, cafés, filmes que correm pelo meio alternativo cultural, mas infelizmente para uma determinada classe social. Para que atitudes como essa acabe, é necessária a aprovação de leis que ajudem no fim do preconceito e da discriminação, como o PL122 que irá criminalizar as práticas homofóbicas no Brasil e a aplicação das leis já existentes como o artigo 150 da Lei orgânica de Porto Alegre e a Lei Estadual 11.872/02.


Desde 2007, o Grupo Desobedeça GLBT realiza a manifestação pública “MINI PARADA” e todos anos segue para a frente do Olaria na busca de um diálogo, para que discursos e práticas como essas não se repitam. Por isso, neste ano, estaremos novamente na frente do Centro Comercial Nova Olaria, até que esta realidade seja transformada.


Porto Alegre, maio de 2010

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